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O lápis
Sem
eletricidade pela manhã e precisando escrever um texto, procurei as
canetas. Secas, falhando ou soltando tinta demais, sabe como é? E ali
estava um lápis que eu não tenho a menor ideia de como surgiu e há
quanto tempo. A ponta apontada.
Comecei a escrever com o
lápis. Algumas coisas começaram a acontecer na minha memória e no meu
coração. Voltei correndo para o Grupo Escolar D. Henrique Gelain
(emérito bispo da diocese de Lins) e comecei a recordar das primeiras
letras, ditadas pela dona Gessy Beozzo, no caderno de caligrafia. Senti
que a minha mão ainda fluía bem com o lápis. Além de tudo, é higiênico.
Só que a ponta acaba. E foi
com uma afiada faca de churrasco que fiz o serviço. Que prazer, gente,
fazer a ponta de um lápis. Fiz devagarzinho para não desperdiçar a
emoção da minha volta ao passado.
E me lembrei que todos nós
começamos a escrever com ele. Mas, ainda com sete anos, o sonho já era
começar a usar a caneta tinteiro e o mata-borrão. Mas isso era coisa
para o pessoal mais velho, do segundo ano, na classe da dona Clara. A
caneta era com pena que a gente mergulhava no tinteiro. Voltava imundo
para casa. Aí o sonho era a caneta Parker que já vinha com tinta: a
gente carregava em casa, num mecanismo avançadíssimo.
Depois o sonho foi a Lettera
22, depois a IBM de bolinha (dava para apagar os últimos dígitos
errados) e depois veio o computador e agora o sonho é um Pentium 5. E o
lápis ficou lá atrás. Só que ele não seca, não acaba e não suja.
Aí me lembrei que existiam
uns lápis que tinham uma borrachinha na outra ponta. Para apagar erros.
Não resisti, sai e comprei. Não um, mas vários. E, é claro, um
apontador. Não aqueles modernos com manivela, de mesa, mas daqueles
pequenininhos, que hoje são de plástico transparente. Na minha época não
existia plástico. Eles eram de madeira mesmo. Aproveitei e comprei uma
caixa de lápis coloridos. Trinta e duas cores. Uma lata bonita.
Aí, não tendo mais o que
inventar para brincar, resolvi escrever um texto com letra de forma
(porque se chama de forma?), escanear e ver se o computador reconhecia o
meu texto. Não. Não por culpa dele, mas pela minha letra mesmo que,
nestas últimas décadas, dado ao desuso, e não apenas o computador não
entende. Afinal, hoje em dia, além de preencher cheques, para que serve
escrever à mão? Como para que serve saber somar ou subtrair se as
maquininhas estão aí? Para que serve o curso primário?
É aqui que eu queria chegar. Não adianta o governo
testar alunos e professores e universidades. Vai dar sempre zebra. O
buraco é bem mais embaixo senhor Ministro da Educação. Vamos voltar ao
lápis e ao dois mais dois. Vamos começar pela base. Vamos escrever a
lápis. Mesmo porque, se não der certo, a gente apaga e começa de novo.x